Re: Re; Clarisa (LVA em Araçatuba)

CARLOS BRISOLA MARCONDES cbrisola at mbox1.ufsc.br
Wed Jun 23 16:24:18 BRT 1999


Caros colegas,
esta discussão é muito interessante e gostaria de lembrar que o estado de SP
tem sido muito estudado quanto à fauna de flebotomíneos e é pouco provável
que Lutzomyia longipalpis tenha passado desapercebida. A Sucen e o pessoal
da Fac. Saúde Pública têm pesquisado bastante e têm grande experiência no
assunto.
   Na tese do M. P. Barretto (p. 84) é citada a presença, em Araçatuba, de
L. whitmani e de outras espécies, em geral relacionadas com florestas. É bem
provável que esta tenha sido substituída por L. neivai (referida usualmente
como L. intermedia) e que, com o desmatamento, esta também tenha
desaparecido e L. longipalpis proliferado, talvez a partir de populações
pequenas e não percebidas. É também possível (mas improvável) que a presença
de L. longipalpis tenha passado desapercebida, pela maior concentração de
estudos em florestas, mas os domicílios e proximidades também sempre foram
pesquisados.
   Gostaria de saber que casos são estes de LV canina autóctone até de Santa
Maria (RS).
   De qualquer modo, a situação em SP tende a se tornar séria e estou certo
que pesquisadores do assunto de outros estados, como eu, estarão à
disposição para colaboração em trabalhos na região.

Atenciosamente
prof. dr. Carlos Brisola Marcondes
Depto Microb. Paras./CCB
UFSC- Campus Trindade
88040-900 Florianópolis (SC)
-----Mensagem original-----
De: Santa Rosa <epidemio at dedalus.lcc.ufmg.br>
Para: Multiple recipients of list <leish-l at bdt.org.br>
Data: Quarta-feira, 23 de Junho de 1999 17:43
Assunto: Re; Clarisa (LVA em Araçatuba)


>Cara Clarisa
>
>
>Alguns pontos da sua msg me chamaram a atenção e como epidemiologista e
>leishmaniologo (como vc chamou) não posso deixar de enviar essa msg para
>vc.
>
>Não considero a LVA uma doença emergente no Brasil, acho que ela se
>adequa mais à classificação de reemergente (porém creio mais em ser ela
>uma doença permanecente), pois São Paulo já apresentou casos de LVA no
>passado e ainda hoje apresenta casos de LTA, mostrando que há condições
>de manutenção do ciclo do Lutzomyia no estado. A região sem ocorrência
>de casos é uma região indene, acredito que no caso de São Paulo e
>sudeste do Brasil o termo paraendemico seja mais indicado.
>Com relação a prevalencia na população canina e a não ocorrência de
>casos humano em grande porporção devemos lembrar que os cães
>apresentam-se mais expostos ao risco de serem infectados uma vez que o
>seu tempo de permanencia fora do domicílio durante a noite (provavel
>horario de atividade do flebotomínio) é  bem maior que a do homem,
>ressalte que esses são pouco tolerantes a odores fortes e a nossa
>sociedade abusa deles, por tanto isso talvez deve ser um fator de
>proteção (?). Outro fator a ser analisado é que vc está comparando a
>prevalência por parametros distintos, sorologia para cães e diagnóstico
>clínico para humanos, como o segundo metodo é menos sensível (até mesmo
>devido ao não reconhecimnto da doença ou da possibilidade da sua
>ocorrência em São Paulo) sua correlação fica aquém do desejado. Talvez
>se fosse comparado os resultados de sorologia canina com sorologia
>humana os dados fossem mais próximos (?).
>Como já foi relatado por vários trabalhos realmente não se resolve o
>problema da leishmaniose somente com a intervenção em um dos pontos da
>cadeia, é preciso atuar, segundo preconizado pelo MS, no diagnóstico e
>tratamento precoce dos casos humanos, na remoção dos CÃES POSITIVOS e no
>combate ao vetor. Magalhães, trabalhando com o professor Wilson Mayrink,
>acrescenta que sem educação em saúde essas três medidas são
>subutilizadas  e menos eficientes. A intervenção somente sobre o vetor
>pode resolver o "surto" uma vez que acaba com a via de transmissão
>normal da doença porém ao não eliminar a fonte de infecção para o vetor
>se está somente postergando o problema.
>
>Com relação ao óbito num dos primeiros casos vc deve considerar a demora
>para diagnostico, o que resulta em prognostico bastante desfavoravel.
>Foi assim também na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em 1989 uma
>menina de Sabará veio a falecer e depois do óbito o dignóstico foi
>firmado como LVA. Na época o Prof. Mayrink alertou para o risco de
>urbanização da doença, mas por ser um caso isolado não teve maiores
>repercursões.
>
>Agora o fato que realmente me impulsionou a escrever:
>> Que Leishmania feroz e essa?!!! Nao ha epidemia humana e o primeiro caso
=ja e fatal!.=20
>O grande problema Clarisa é o uso equivocado de terminologia, se vc
>procurar em qq livro básico de epidemiologia vai ver que epidemia é a
>corrência de um número de casos acima do esperado, para uma determinado
>período e área. Se conserarmos que existia um controle epidemiologico da
>LVA (uma vez que é de notificação compulsória) e que o esperado de casos
>era zero, um caso pode ser caracterizado como epidemia, ainda que o
>senso comum reporte como epidemia um número elevado de casos.
>
>No mais concordo com vc, e acredito que é necessario aproveitar toda a
>experiência da FNS e das pessoas que se dedicam a trabalhar as
>leishmanioses que nos últimos anos vem se espalhando rapidamente pelo
>país (já existe relatos de casos outoctones caninos até em Santa Maria
>no RS), pois logo logo a doença estará disseminada de tal forma no país
>que é possível que o Sr, José "Campanha"Serra invente alguma forma de
>gastar dinheiro público sem critérios de impacto, e sim de mídia.
>
>Colocando-me a disposição para continuarmos a conversa e esperando
>informações sobre como anda o desenvolvimento da vacina canina,
>despeco-me
>
>Atenciosamente
>
>Santa Rosa
>Prof. de Zoonoses
>DMV - UFLA
>Lavras - Minas Gerais
>starosa at ufla.br
>epidemio at dedalus.lcc.ufmg.br



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