Re; Clarisa (LVA em Araçatuba)

Santa Rosa epidemio at dedalus.lcc.ufmg.br
Wed Jun 23 19:23:46 BRT 1999


Cara Clarisa


Alguns pontos da sua msg me chamaram a atenção e como epidemiologista e
leishmaniologo (como vc chamou) não posso deixar de enviar essa msg para
vc.

Não considero a LVA uma doença emergente no Brasil, acho que ela se
adequa mais à classificação de reemergente (porém creio mais em ser ela
uma doença permanecente), pois São Paulo já apresentou casos de LVA no
passado e ainda hoje apresenta casos de LTA, mostrando que há condições
de manutenção do ciclo do Lutzomyia no estado. A região sem ocorrência
de casos é uma região indene, acredito que no caso de São Paulo e
sudeste do Brasil o termo paraendemico seja mais indicado.
Com relação a prevalencia na população canina e a não ocorrência de
casos humano em grande porporção devemos lembrar que os cães
apresentam-se mais expostos ao risco de serem infectados uma vez que o
seu tempo de permanencia fora do domicílio durante a noite (provavel
horario de atividade do flebotomínio) é  bem maior que a do homem,
ressalte que esses são pouco tolerantes a odores fortes e a nossa
sociedade abusa deles, por tanto isso talvez deve ser um fator de
proteção (?). Outro fator a ser analisado é que vc está comparando a
prevalência por parametros distintos, sorologia para cães e diagnóstico
clínico para humanos, como o segundo metodo é menos sensível (até mesmo
devido ao não reconhecimnto da doença ou da possibilidade da sua
ocorrência em São Paulo) sua correlação fica aquém do desejado. Talvez
se fosse comparado os resultados de sorologia canina com sorologia
humana os dados fossem mais próximos (?).
Como já foi relatado por vários trabalhos realmente não se resolve o
problema da leishmaniose somente com a intervenção em um dos pontos da
cadeia, é preciso atuar, segundo preconizado pelo MS, no diagnóstico e
tratamento precoce dos casos humanos, na remoção dos CÃES POSITIVOS e no
combate ao vetor. Magalhães, trabalhando com o professor Wilson Mayrink,
acrescenta que sem educação em saúde essas três medidas são
subutilizadas  e menos eficientes. A intervenção somente sobre o vetor
pode resolver o "surto" uma vez que acaba com a via de transmissão
normal da doença porém ao não eliminar a fonte de infecção para o vetor
se está somente postergando o problema.

Com relação ao óbito num dos primeiros casos vc deve considerar a demora
para diagnostico, o que resulta em prognostico bastante desfavoravel.
Foi assim também na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em 1989 uma
menina de Sabará veio a falecer e depois do óbito o dignóstico foi
firmado como LVA. Na época o Prof. Mayrink alertou para o risco de
urbanização da doença, mas por ser um caso isolado não teve maiores
repercursões. 

Agora o fato que realmente me impulsionou a escrever:
> Que Leishmania feroz e essa?!!! Nao ha epidemia humana e o primeiro caso =ja e fatal!.=20 
O grande problema Clarisa é o uso equivocado de terminologia, se vc
procurar em qq livro básico de epidemiologia vai ver que epidemia é a
corrência de um número de casos acima do esperado, para uma determinado
período e área. Se conserarmos que existia um controle epidemiologico da
LVA (uma vez que é de notificação compulsória) e que o esperado de casos
era zero, um caso pode ser caracterizado como epidemia, ainda que o
senso comum reporte como epidemia um número elevado de casos.

No mais concordo com vc, e acredito que é necessario aproveitar toda a
experiência da FNS e das pessoas que se dedicam a trabalhar as
leishmanioses que nos últimos anos vem se espalhando rapidamente pelo
país (já existe relatos de casos outoctones caninos até em Santa Maria
no RS), pois logo logo a doença estará disseminada de tal forma no país
que é possível que o Sr, José "Campanha"Serra invente alguma forma de
gastar dinheiro público sem critérios de impacto, e sim de mídia.

Colocando-me a disposição para continuarmos a conversa e esperando
informações sobre como anda o desenvolvimento da vacina canina,
despeco-me

Atenciosamente

Santa Rosa
Prof. de Zoonoses
DMV - UFLA
Lavras - Minas Gerais
starosa at ufla.br
epidemio at dedalus.lcc.ufmg.br


More information about the Leish-l mailing list